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Fibras e micronutrientes

Intolerância à lactose: como entender esse distúrbio digestivo

A lactose é considerada o principal carboidrato do leite de mamíferos1. O leite humano contém cerca de 70 g / L (7%) de lactose, o que fornece cerca de 30–40% das calorias aos recém-nascidos2. Sua digestão depende da presença da enzima lactase florizina hidrolase (LPH). Onde necessariamente, dois sítios enzimáticos intraluminais, projetam-se no lúmen do intestino, separando a lactose em dois monossacarídeos, a glicose e a galactose. Após essa quebra, os açúcares, são então levados pelos transportadores de glicose sódica através da borda em escova intestinal. A glicose é utilizada principalmente para energia; entretanto, a galactose é utilizada para outros propósitos.

A Intolerância à Lactose:

O termo clássico intolerância à lactose (IL) tem sido aplicado ao desenvolvimento de sintomas gastrointestinais, como gases, inchaço, cólicas abdominais e dor, às vezes associada a diarreia aquosa e, ocasionalmente, com náuseas e vómitos, após ingestão de grandes quantidades de alimentos contendo lactose3. No entanto, existem três tipos de intolerância à lactose de causas diferentes4:

  1. Hipolactasia do “tipo adulto”:

    É uma doença de natureza genética, e ocorre na maioria da população mundial adulta, com incidência variável dependendo da localização e etnia. Somente 2% apresentam sintomas graves de intolerância à lactose. No Brasil cerca de 40% das pessoas apresentam hipolactasia do “tipo adulto” que se inicia após os 3 anos de idade.

  2. Intolerância congênita à lactose:

    Essa especificidade também de cunho genético, ocorre de forma rara, impossibilitando o aleitamento materno exclusivo, por já se manifestar após o nascimento.

  3. Intolerância secundária à lactose:

    Deficiência temporária de lactase, devido a uma doença base causadora de lesões no intestino, que após períodos variáveis retorna aos valores normais. Podemos testemunhá-la após uma gastroenterite viral, giardíase, alergia ao leite bovino, doença celíaca e doença de Crohn, por exemplo. Também pode ocorrer em bebês prematuros, ainda incapazes de produzir lactase em quantidade suficiente.

Essas denominações podem inclusive, se diferenciar de outros distúrbios intestinais, como o caso dá à alergia ao leite de vaca (ALV) ou alergia à proteína do leite de vaca (APLV). É uma reação imunológica às proteínas encontradas no leite de vaca5. Inclusive, a definição da Organização Mundial de Alergia6, para alergia à proteína do leite de vaca, consiste em uma “reação de hipersensibilidade provocada por mecanismos imunológicos específicos ao leite de vaca".

A ALV deve ser diferenciada da intolerância ao leite de vaca (ILV), onde a primeira é uma reação imunomediada, enquanto a última é geralmente devido à deficiência de lactase, que é rara em bebês, exceto após infecções gastrointestinais7.

Carências nutricionais

Do ponto de vista de saúde, as preocupações das pessoas com IL, estão em torno das possíveis carências nutricionais devido à completa abstenção de alimentos lácteos, os quais fornecem mais cálcio, proteína, magnésio, potássio, zinco e fósforo por caloria do que qualquer outro alimento típico encontrado na dieta de adultos8. Felizmente, o consumo de substitutos não lácteos tem aumentado, principalmente pelo consumo de produtos de base vegetal, como o caso das bebidas vegetais de soja, arroz, aveia, coco, amêndoas e nozes. Inclusive, esses produtos podem ser fortificados, o que auxilia na qualidade nutricional das dietas para essa população. Em síntese entendemos a complexidade da IL, e o quanto o diagnóstico e o tratamento são de suma importância para a qualidade de vida de seus portadores.

Referências

1

Brüssow, H. Nutrition, population growth and disease: A short history of lactose. Environ. Microbiol. 2013,15, 2154–2161.

2

Schaafsma, G. Lactose and lactose derivatives as bioactive ingredients in human nutrition. Int. Dairy J. 2008,18, 458–465.

3

Szilagyi A and Ishayek N. Lactose Intolerance, Dairy Avoidance, and Treatment Options. Nutrients 2018, 10, 1994.

4

Intolerância à Lactose. Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/noticias/nid/intolerancia-a-lactose acesso em: 08 de novembro de 2021.

5

Fiocchi A, Schünemann HJ, Brozek J, et al. Diagnosis and Rationale for Action Against Cow’s Milk Allergy (DRACMA): a summary report. J Allergy Clin Immunol. 2010; 126:1119-1128.

6

Fiocchi A, Brozek J, Schünemann H, et al. World Allergy Organization (WAO) diagnosis and rationale for action against cow’s milk allergy (DRACMA) guidelines. Pediatr Allergy Immunol. 2010;21(suppl 21):1-125.

7

Vandenplas Y, De Greef E, Devreker T. Treatment of cow’s milk protein allergy. Pediatr Gastroenterol Hepatol Nutr. 2014; 17:1-5.

8

Rozenberg, S.; Body, J.J.; Bruyère, O.; Bergmann, P.; Brandi, M.L.; Cooper, C.; Devogelaer, J.P.; Gielen, E.; Goemaere, S.; Kaufman, J.M.; et al. Effects of Dairy Products Consumption on Health: Benefits and Beliefs—A Commentary from the Belgian Bone Club and the European Society for clinical and Economic Aspects of Osteoporosis, Osteoarthritis and Musculoskeletal Diseases. Calcif. Tissue Int. 2016, 98, 1–17.

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